segunda-feira, 27 de julho de 2009

E no final, o que é que fica?

domingo, 26 de abril de 2009

Tema: Barba

"- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? 
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino." 
(Manuel Bandeira)

Era tão somente despir suas roupas e entrar no banho que sentia seu ventre podre. Aquele dor não sentida de que pariria ali mesmo um ser estranho, nem humano nem rato, fruto de algumas relações casuais que tivera. Barbas que lhe roçavam o pescoço, pelos que se misturavam aos seus, aqueles olhos tão azuis, tão profundos que lhe encaravam, tentando ver além do seus, tentando ver aquela criatura grotesca que imagina trazer no ventre. Era uma cólica que não passava, não tinha cura nem remédios. Já tentara boldo, agrião, homeopatia, remédios. Uma vez tentou um tango.

Tão logo tocaram um tango argentino foi a morte anunciada do seu ventre, o tango argentino que muitas vezes parece melhor que um blues. O luto do tango póstumo. O luto do seu ventre apodrecido que jamais gerou fruto algum.

Nem homem, nem rato.

Lorena Borges

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Tema: Espirro

para matchola

Já dizia um grande amigo meu: espirro é um orgasmo nasal.

Lorena Borges

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Tema: Chinelo

"Não há maior exemplo de fidelidade 
que nossos chinelos esperando juntinhos 
em baixo da cama..."


acordei. espriguicei. levantei. banhei. mijei. lavei. sequei. vesti. penteei. desci. preparei. comi. bebi. li. lavei. guardei. sai. tranquei. andei. abri. liguei. parti. virei. dirigi. dirigi. dirigi. cheguei. estacionei. sai. liguei. entrei. subi. entrei. sentei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. cafeei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. terminei. entrei. desci. desliguei. entrei. parti. dirigi. dirigi. cheguei. entrei. comi. bebi. lavei. guardei. andei. sentei. televisionei. cochilei. levantei. subi. bocejei. tirei. entrei. banhei. sai. enxuguei. vesti. arrumei. deitei. dormi. acordei. sonambilei. levantei. vesti. sai. dirigi. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei. trabalhei...

ele deveria se aposentar,
e apenas chinelar.

Lorena Borges

domingo, 29 de março de 2009

Tema: Lâmpada

Deus apaga o dia,
Nós acendemos a noite

ascendemos...



Lorena Borges

domingo, 22 de março de 2009

Tema: Maça

para as pessoas das feiras


Não que eu seja covarde. Mas eu tenho medo. Medo de muita coisa. Na verdade, nunca considerei o medo algo ruim,  às vezes agradeço por ter medo de tanta coisa. O medo é o que me mantem viva. Se não fosse o medo de morrer atropelada eu atravessaria a rua sem olhar. Se não fosse o medo de perder o meu emprego, eu faltaria hoje para dormir mais. Se não fosse o medo das borboletas eu cultivaria largartas em casa. 
Agradeço, o medo me mantem viva. Não fosse ele, talvez hoje eu seria uma prostituda, drogada, criminosa, ou qualquer outra coisa. 
Um dia o medo salvou a minha vida. Tive medo de desobedecer meus pais, não entrei no carro. Dei sorte, pois as pessoas que não tiveram esse medo morreram entre as ferragens após serem prensadas por dois caminhões. O medo me salvou, não a obediência (nunca fui muito obediente). Uma vez tive medo de pular de ponta no rio. Não sei o que tinha no fundo, mas com certeza devia ter uma pedra pontuda querendo beijar minha testa. Não pulei. Ao invés disso fiquei sentada na beira com os pezinho na água. Não me arrependo, pois tive um beijo roubado e me casei (ainda bem que tive medo de pular no rio).
Certa vez eu não quis ter medo, e desci o morro de bicicleta sem as mãos e sem olhar o cruzamentos, bom... cai, quebrei o braço e coloquei 6 pinos. Eu devia ter tido medo. 
Ter medo de muita coisa nunca me impediu de ser corajosa, são coisas diferentes. Pois eu tive coragem de aceitar o meu medo, o meu medo que me mantém viva. Tive coragem de sair de casa e ir morar sozinha, não tive medo. Tive coragem de comprar um sapato-boneca-borbo-flocado-trançado que custava a metade do meu salário, não tive medo. Tive coragem de saltar de para-pente num dia entediante, e diate daquela altura imensa não tive medo, apenas uma paz qualquer. Tive coragem de cortar relações na raiz e acabar de uma vez com o mal que me causava, não tive medo. Tive coragem de ir pra rodoviária, fechar os olhos e apontar para uma cidade e viajar, não tive medo, apenas uma excitação qualquer. 

Mas o que mais me tira a coragem é ir à feira pela manhã para comprar maças.



(Tenho medo de escolher a errada.
Eu gosto das azedinhas)

Lorena Borges

domingo, 15 de março de 2009

Tema: Chicletes

Vou dormir

babaria loucamente
babaria lorenando

babari loumente
babar louca

baba Lô

babaloo.

Lorena Borges

domingo, 8 de março de 2009

Tema: Pijama

Abdico meu posto de mulher moderna

Desisto. 
Tá me escutanto? Eu desisto, I give up, j'abandonne, Ich gebe auf, Dò in su, Doy para arriba.
Isso mesmo, to dando meu emprego pra qualquer um. EU DESISTO!
Anda despertador, pode parar de gritar. Eu já desisti. Não vou levantar cedo hoje nem fudendo. Não quero. Não tenho mais forças. Quero virar uma cama por osmose e ser interrada de pijamas se me der na telha.
Quero ir no meu quintal, panhar as laranjas e fazer um suco. Assistir desenho animado (deus do céu, já nem sei o que é televisão, ainda mais desenho animado!). Se tivesse um cachorro eu o levaria para passear no parque. Até faria meu prório almoço hoje - não aguento mais restaurantes. Passaria intermináveis horas na cozinha preparando um salmão, fazendo arroz e uma torta alemã para a sobremesa. Alugaria uns filmes, quem sabe a tardinha eu iria para o clube, nadaria um pouco, ia para a sauna e depois encontrar com alguns amigos que já não vejo há tempos e conversaria sobre coisas agradáveis, até chegar em casa cansada depois de ter um dia tão agradável. Mas não, eu tenho que levantar, tomar banho, passar maquiagem, hidratante, escolher a roupa, o sapato, a bolsa, os acessórios, engatar a primeira marcha e com um sorriso falso encarar os 47 minutos de engarrafamento até chegar na empresa, ficar o dia inteiro com o telefone pregado na orelha resolvendo problemas que não são meus, servir café para os presidentes da empresa quando não tive nem tempo de fazer o meu!

Não, eu desisto! Tudo menos ter que engatar a marcha.

Eu bem que queria saber quem foi a infeliz que num dia de tédio inventou o feminismo e os direitos iguais só para passar o tempo. Ô mulherzinha infeliz! Só porque não gostava de usar sutiã e espartilho saiu por ai fazendo arruaça em busca de direitos iguais. Pra que? No tempo das nossas avós é que era bom! A vida era um curso de artesanato e culinária! Nossas preocupações eram apenas dar uma certa educação aos nossos filhos, pensar o que faríamos de almoço, trocar receitas com as amigas, bordar, visitar saraus, dar uma ajeitada na casa e esperar, lindas e poderosas (porque tivemos o dia inteiro para isso) os nossos maridos chegar em casa. 
Não tinhamos que nos preocupar com a primeira marcha! 
Conquistar nosso espaço? Pra que? Já tinhámos a nossa casa e o bairro inteiro, o que mais essa mentecapta queria? Tava na cara que isso não ia dar certo! Olha o tamanho do bícebs deles e os nossos! Não aguento mais! Eu abdico o meu posto de mulher moderna! Hoje descobri que eu nasci para cuidar da casa e do meu marido. 
Quero alguém que abra o carro para mim, pague minhas contas, me mande flores e depois chegue em casa cansado de trabalhar, sente no meu sofá e me peça um café. Eu nasci para isso!

Troco o meu posto de mulher moderna por qualquer outro, Amélia, Rita, Capitu, Anita, Bárbara, qualquer um! 
Só me deixem ficar de pijama hoje

Lorena Borges

domingo, 1 de março de 2009

Tema: Terça-feira

Não é tempo de arrumar as malas, não é tempo de pegar o trem.  Não é tempo de se despedir. 
É preciso ajeitar a bagunça primeiro, colocar as roupas na gaveta. É preciso colocar um batom e sair pra ver o sol.
Não é tempo de morangos nem de lágrimas.
Não é tempo de se fechar. Não é tempo de resumir a sua vida em uma mala simples e preta.
É tempo de girassóis, do calor desumano.
É tempo de vestir uma blusa branca e calçar chinelos. É tempo de sair de mãos dadas, sentir qualquer vento no rosto, ver qualquer paisagem que valha a pena.

Não é tempo de pegar o trem.
Não é tempo de olhar para traz.
Esse não é o tempo de lágrimas.

É terça-feira.
Hoje é dia de ter esperanças.

Lorena Borges

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Tema: Marrom

É verão na Inglaterra e eu não posso ver. Há muito que já não vejo mais nada. Apenas o marrom, esse marrom que insiste em aparecer na minha memória. O marrom olheira dos seus olhos. (Em pensar que esta foi a última coisa que eu vi.) Olheiras enormes e profundas. Marrons. Cada pigmento representado por uma lágrima, e esta por um tristeza. O marrom triste e inexpressivos dos seus olhos, o marrom do sangue velho coagulado. O marrom das frutas pobres.O marrom da merda, da bosta, do coco, do escremento. Esse marrom maldito que me persegue, mesmo que eu seja cego. Já chega o outono na Inglaterra, o estação do marrom, e mesmo sendo cego eu posso vê-lo.

Não gosto de outonos.


Lorena Borges

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Tema: Carne

Ao gosto de Augusto

Nunca antes se falara de Augusto, que tanto poderia ser João ou José, dada a simplicidade que expressava. Nunca antes se falara dele, que era um segredo meu. Tanto era Augusto, João ou José como Maria, Crisitna ou Isabela, ele assumi a forma que quisesse. Talvez por isso nunca antes se falara, diretamente, nele. Pois ele estava contido em todos os outros. Era eu, a minha pele e a minha carne. Era vermelho, doce, morango. Morder-lhe a carne macilenta e sentir o gosto docimente ácido do morango maduro. Vermelho. Augusto era vermelho como a carne daquele morango. E quantas carnes Augusto tinha! Fortes, algumas impenetráveis, outras macias. Nunca antes se falara do vermelho sangue de Augusto, nunca antes se falara de sua carne. Augusto tinha o toque macio, fazia-me arrepiar os pelos do pescoço, tinha um olhar sereno que me acalmava, mas era tão somente tocar as minhas carnes que o desespero me possuía. O desespero suculento que saia de minhas carnes com apenas um toque de Augusto. As minhas carnes nas carnes de Augusto, que tanto podia ser Henrique, Luciano, Bruna ou Carolina.
Pois nunca antes se falara dele.

Lorena Borges

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Tema: Paletó

Leve o paletó ao sair de minha vida.

Lorena Borges

Tema: Paletó

Nem se eu fosse um idiota completo, eu poderia deixar de pensar isso. Dizem que ignorancia é uma benção não é? Eu queria ignorar completamente tudo que diz respeito ao lado de lá: os sentimentos, as vontades, os planos, os medos. E me tornaria um sujeito daqueles que ficam no sofá em um domingo eterno, assistindo futebol, esperando o Faustão, a segunda e o próximo domingo. E tudo seria fácil, assim como o amor seria só casamento, o sexo só um desejo esporádico, a cerveja só uma rota de fuga, os filhos só uma despesa... e tudo seria fácil mesmo.
Mas não; o que quero é bem intenso, bem fora de moda, bem inadequado a um homem adulto. Não acho que seja demais isso que eu peço, mas concordo que talvez eu esteja sendo injusto e exigindo da maneira errada.
A sensação quando se abraça uma pessoa amada, é a de que o mundo inteiro lá fora é frio demais, e nada se compara a esse calor: ao calor dos braços, que se transforma no calor do lar dessa pessoa, da cama dessa pessoa. E tudo é confortável nessa reciprocidade.
Mas tudo é frio na ausencia dessa reciprocidade. E a solidão à dois dói mais do que a solidão pura- essa nos ensina e aquela nos engana. E se sentir enganado sem poder sê-lo, é um incomodo enorme. Frio é algo que só faz sentido sentir sozinho.
Portanto, é melhor que eu não esqueça o paletó ao sair.


Túlio Magno

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Tema: Macau

Alguém já ouviu falar de Macau? Esse nome não tinha se passado em minha vida, e veio com tanta intensidade quando recebi um cartão-postal de lá. Mas que diabos alguém estaria fazendo em Macau? Aliás, onde fica essa porra? Eu nem sabia que era país! (aliás, nem sei ainda se é país, parece ser uma região do oriente, porque no cartão havia um monte daqueles simbolozinhos engraçados que os chineses e japoneses usam). Por mim era o nome de uma tribo indígena ou de uma currutela qualquer no Mato Grosso. Que diabos ela foi fazer em Macau, como ela foi parar lá? A infeliz sumiu de uma vez e me vem agora com um cartão-postal de lá. Nem sei que idioma falam! A maldita infeliz filha de uma rapariga vai embora e me manda apenas um cartão-postal, e eu com essa saudade toda. Mas era isso mesmo que ela queria não é? Essa saudade. Isso mesmo que ela sempre buscou, fazer falta. Pois então sinta-se feliz, eu aqui só com um cartão-postal e essa saudade.... e você aí em Macau, fazendo sabe-se lá o que (ó, e mestre google me mostra, lá eles falam português, será que também sofreram com a reforma ortográfica?) Talvez esteja comendo um camarão tomando um suco de alguma fruta exótica, enquando acende um cigarro e vê o por-do-sol, afinal aqui são 5 da manhã e eu perdi a noite toda de sono devido a um bendito cartão-postal de Macau.

É bom saber que num lugar distante alguém pensa em você...

Lorena Borges

domingo, 25 de janeiro de 2009

Tema: Chuva

Lucas era chuva.
E assim como ela adquiria a intensidade que quisesse.

Lorena Borges

domingo, 18 de janeiro de 2009

Tema: Companhia

A melhor companhia é a gente mesmo.

Túlio Magno

Tema: Companhia

A mais nova velha amiga

Hoje eu sinto uma necessidade enorme em escrever.
Mas fiquei tanto tempo sem me deparar com as letras que não sei por onde começar, há tanta coisa. Não sei se tudo começou por cousa de um avião ou de um palavrão.
Ele perdeu o avião. Ele, hoje, perdeu a razão.
Poderia ficar brava por ele não ter sido forte, mas eu não tenho o direito de julgar ninguém. Justamente eu, que, por não ter sido forte causei tantas coisas.
De qualquer maneira hoje eu decidi viver, e a cada dia dessas férias eu tenho acordado e agradescido. Abro a janela e respiro. É bom viver, por mais que doa.
Já cheguei a beira da loucura muitas vezes, e essa noite eu cheguei novamente. Mas existem várias loucuras, e essa era uma loucura boa.
Porque era libertação.
Era assumir a burrice da minha vaidade que causou isso tudo.
Poderia ficar brava por ele não ter sido forte. Mas ele foi, ele teve a coragem de colocar tudo o que se passou em papel. Eu nunca tive a coragem de escrever, e tento só agora, de maneira confusa. Quem não sabe da história talvez nunca entenda o que escrevo e essa seja somente mais um texto consfuso. Mas creio que outras pessoas já passaram o que passamos, há sempre uma certa semelhaça em toda as histórias, creio eu.
Desde do começo foi muito sobre força. Mas é esta mesmo a questão? A vida é medida por momentos em que fomos fortes e momentos em que fomos fracos? A vida não tem medida.
Assim como as dores tambem não.
Não há medidas pois não podemos calcular o seu tamanho.

Hoje eu resolvi ser diferente, parei de pensar se fui forte ou fraca. Eu fui forte quando deveria ser forte e fui fraca quando deveria ser fraca. Não é uma aceitação boba, não é conformismo, eu apenas sei que fui o que deveria ter sido. Fui Lorena quando preciso, fui filha do Luiz quando convinha ou até mesmo irmã da Laryssa. Hoje, somente hoje, eu não tenho nome. Hoje eu fiz amizade comigo mesma e me convidei pra passear.

É bom estar em paz, ser uma boa companhia para você mesma. Acho que eu deveria ter feito amizade comigo mesma ha mais tempo.
Porque, hoje, ser sozinha não dói.

Lorena Borges

domingo, 11 de janeiro de 2009

Tema: Família

Eu tenho uma estranha mania de olhar o significado das plavras no dicionário (se pudesse eu teria um monte, só pra ficar comparando definições) e por um impulso qualquer abri as páginas aleatoriamente e lá estava: família.

Família (do latim familia) S.f. 1- Pessoas aparentadas que vivem geralmente na mesma casa, particulamente pai, mãe e filhos. 2- Grupo de indivíduos que professam o mesmo credo, têm os mesmos interesses, a mesma profissão, são do mesmo lugar de origem, etc.

Então é isso? Toda essa união, cumplicidade, amizade, companheirismo, respeito, partilha, amizade, é definido assim?
A partir de hoje farei o meu próprio dicionário.

Lorena Borges

domingo, 4 de janeiro de 2009

Tema: Sentido

Não se fala em sentido. Sentido é coisa de se sentir, não de se falar. De todo jeito, por agora, eu tenho mais pra sentir do que pra falar. É coisa do tempo mesmo...



Bom mesmo é sentir o ao redor para tomar algum sentido na vida.
Sou simplista nesse sentido. Sou assim, porque já é difícil sentir... Falar sobre fica mais difícil ainda. Por agora, pelo menos é assim. Não sei se daqui há alguns anos eu tomo jeito de me entender e de sacar como que é. Felizes são os bons artistas e os sábios monges.
Mas eu sei, não faz sentido...
E que não se confundam, mas que se misturem o sentido e o sentimento. Um dia há de virar tudo uma coisa só, de sensibilidade e só.
Eu não sei, mas faz sentido...
No fundo eu sinto é tudo, do tato à intuição, uma coisa só.
Pois é só isso, confuso e pouco mesmo. Sinto muito.

Túlio Magno

Tema: Sentido

Dois dedos de vodka

Não, eu não fiquei a minha vida toda esperando um sentido para qualquer coisa. (Fecha a porta que agora é entre nós e só.) Tenho me sentido um pouco só, como se eu não soubessse a direção que deveria tomar. Então tomo vodka. É a única coisa que tem matado essa minha sede sei lá de que. Mas sem gelo, suco ou açucar, assim mesmo, vodka e só ela, transparente. Outro dia, num desses dias que a gente só quer morrer um pouco, coloquei um vinil antigo no som, sentei no sofá com uma garrafa ao lado e fiquei horas olhando o meu copo cheio daquele líquido transparente, tentando achar algum sentido qualquer em qualquer coisa. Percebi que em toda a minha vida eu havia sentido uma coisa: uma ingratidão profunda e uma solidão confortadora.

Lorena Borges